Tuesday, April 15, 2008

Foi filósofo, sonhou e amou na vida

Hoje eu vi um corpo no chão. Mais do que um corpo, era o corpo de um amigo. Felino, gato, bichano. Eu olhei dentro dos teus olhos sem vida, e percebi como a existência é fugaz. Poderia ser eu ali, poderia ser qualquer um, mas era o Nietzsche. Cinco meses, cinza, rajado, esperto, elegante, manhoso. Ele era companheiro, sofrido, calejado da vida, que sempre lhe apresentou obstáculos. Machucou a coluna, também a pata. Mamava nos edredons.

Senti uma enorme necessidade de me sentir viva, de saber que meu tempo nesta dimensão há que ser válido. Se já tinha o ideal de ser feliz, agora quero uma plenitude talvez utópica. Preciso me sentir satisfeita e inteira, equilibrar minha energia e descobrir minha essência. O tempo urge! Ecce homo! Eis-me, aqui. Se há um plano traçado para cada um de nós ou não, se há vida depois da morte ou não, importa a mim entender o que faço com o agora, sem perder de vista o que construo para o futuro, sem esquecer do passado.

Adeus gatinho "humano, demasiado humano".

Saturday, April 05, 2008

Hoje eu fui à praia só, pois para revê-la queria um momento íntimo. Havia alguns poucos passantes, mas todos me eram estranhos, e isso era como estar só. Eu me aproximava da água, e sentia meu corpo todo em êxtase revigorante. Meus passos na areia, que vai se acomodando sob os pés, tiveram o poder de me relaxar. Depois veio a areia molhada, e os sulcos que se formaram pareciam raízes tantas e tão entrelaçadas, que bem poderiam ser o desenho de cabelos. Foi então que espuma e água tocaram meus dedos dos pés.

Eu não quis assustar o mar, e o penetrei devagar, sentindo cada parte de mim salgar. Ele respeitou minha preguiça e continuou parcimonioso. O sol estava no céu e na água e me ofuscava, obrigando-me a manter os olhos semicerrados, o que aumentava em mim a sensação de que estava em transe. Enchi os pulmões daquele ar tão puro. Dependente química da maresia.

Thursday, April 03, 2008

Tempero de flor

Nome é nada.
Necessidade é coisa da carne
Calor que surge do ventre, da nuca, dos seios
Vividamente recomponho a cena
Minha boca, desespero
Suor, sexo, disso denso o ar
Coisa de imaginar
Coisas de comer
Tuas pernas, mil carícias
Nossa dança arrítmica
Nossos compassos de vertigem
Bebo-te
Afogamos em lascívia
Meus dedos a te penetrarem
Teus dentes a me penetrarem
Nossos olhos a se penetrarem
Me goze, me ria, me chore
Agatanhe-me as costas e gritemos!
E...
Nossos corpos dissolvidos tombam
Satisfeitos e sossegados
Dormimos lado a lado
Duas mulheres, duas crianças
Viva a nossa aliança!